domingo, junho 03, 2007

Ineficácia nos hospitais impede 50 transplantes todos os anos


As listas de espera para transplantes continuam a aumentar em Portugal, não tanto por falta de dadores, mas por dificuldades na colheita de órgãos. Apenas metade dos 42 hospitais autorizados o fazem com regularidade, o que leva a que "muitos órgãos se percam", denuncia Manuel Abecassis, presidente da Organização Portuguesa de Transplantação (OPT), ontem extinta. O médico deu como exemplo a falta de disponibilidade de recursos humanos no Hospital de Santa Marta (Lisboa), onde a instituição chega a "doar órgãos a Espanha".A colheita de órgãos no ano passado correu melhor do que em 2005, mas ficou aquém das expectativas de milhares de portugueses à espera de um órgão. Na Europa há mais de 40 mil doentes em listas de espera, cenário que estaria na base de um novo reality show na Holanda, cuja realização foi entretanto desmentida. O comissário europeu da Saúde, Markos Kyprianou, considerou que um programa como este seria de mau gosto, mas aproveitou para centrar as atenções no problema, frisando que em cada dia morrem dez europeus por falta de órgãos. A taxa de pacientes que morrem à espera de um transplante de coração, fígado ou pulmão ronda os 15 a 30%. Manuel Abecassis refere que, em Portugal, se perdem oportunidades em muitos hospitais. "Os dadores não são identificados atempadamente. Muitas vezes morrem na Unidade de Cuidados Intensivos e nem se chega a saber o seu potencial. Quem faz o diagnóstico, um neurocirurgião ou neurologista, não sabe atempadamente se o dador teve morte cerebral", condição para fazer a colheita. O diagnóstico de morte cerebral "falha mais", mas há outras limitações estruturais, como a necessidade de camas, a falta de recursos humanos e de preparação das colheitas", explica. Muitas vezes, só se fazem diagnósticos quando o doente está ligado ao ventilador. De acordo com dados da OPT, foram efectuadas 201 colheitas, resultando num total de 590 órgãos (rim, fígado e coração) recolhidos na maioria em cinco hospitais centrais. O número de córneas em 2006 ascendeu a 283, o que é inferior a outros anos. A colheita de pulmões não faz parte das estatísticas de colheitas, mas de transplantes, que foram apenas dois em 2006. Apesar de haver um programa de intercâmbio entre Espanha e Portugal, o responsável frisa que "há três a quatro casos por ano de colheitas feitas por técnicos espanhóis por não haver hipóteses de a equipa realizar o transplante em tempo útil".Se em cada ano as estatísticas flutuam, o certo é que Portugal está longe de Espanha, que é um bom exemplo de funcionamento para o médico do Instituto Português de Oncologia. "Eles têm 35 dadores por milhão de habitantes e nós apenas 21, quando podíamos ter números semelhantes", sublinha. Por essa razão, aponta, "Portugal podia fazer mais 30 transplantes de rim e mais 20 de fígado e de coração por ano". Meia centena de transplantes que ficam por fazer. Em 2006, foram efectuados 1457 transplantes em Portugal e só 452 de córnea. Com dadores vivos, foram realizados 38 transplantes de rim e dois de fígado. As listas de espera por um rim chegam a três anos; seis meses para fígado e coração; nos pulmões, pode chegar a um ano.


DN 02/06/07

Sem comentários: